Salpicos de Fama

Eu tinha tirado aquele dia de férias para tratar de alguns assuntos pessoais, o que é certo é que a chuva complicava o trânsito. Aquelas primeiras chuvadas de Outubro deixaram as estradas alagadas, e foi quando passei mesmo em frente à estação de comboio de Santa Apolónia, que involuntariamente, molhei uma jovem que estava no passeio a tentar apanhar um Taxi.

Não consegui seguir o meu caminho… Parei o carro e voltei para trás. Ela estava a chorar pois tinha acabado de chegar a Lisboa e agora estava toda suja com lama e molhada. Eu sentido-me culpado, disse para ela vir comigo, pois roupa de mulher era coisa que não faltava lá em casa, do tempo em que a minha irmã vivia comigo.

No caminho, ela contou-me que tinha chegado a Lisboa para participar para um programa de TV, e naquele dia o casting era num teatro. Todos os amigos elogiavam os seus dotes vocais, e ela decidiu ser testada, para saber se tinha mesmo jeito para cantar. Confessou-me estar muito ansiosa, pois o júri daquele programa era sempre muito duro e sarcástico, mas pelo menos ela já estava na segunda fase.

Rapidamente chegamos ao meu apartamento, e quando ela entrou no wc para tomar o duche,e eu lhe entreguei o lençol de banho, em tom de brincadeira disse-lhe: “canta no chuveiro para te ouvir…” Ela sorriu, e assim que começou a agua a correr, eu ouvi uma deliciosa voz, a cantar Alicia Keys, Sheryl Crow e Joss Stone. Um ritmo perfeito, uma voz doce, um timbre fantástico. De uma forma involuntária, entrei dentro daquele wc para a ver cantar. Fiquei fascinado… Aquela voz deixou-me praticamente hipnotizado, e agora os meus olhos também vidrados com a perfeição daquele corpo. Ela quando se apercebeu da minha presença calou-se, e ficou envergonhada, tentando  tapar-se, mas eu nem reagi. Eu apenas pestanejava em silencio.

Ela saiu da banheira e veio da minha direcção, para tentar perceber se estava tudo bem comigo. Eu disse-lhe: “Tu és perfeita, cantas divinalmente bem…” Já enrolada no lençol, ela transmitiu um sorriso de grande felicidade e perguntou-me: “Achas que posso ser um Ídolo?” “Claro que sim, tu vais longe”, e ela agarrou-se a mim de contente. Aquele abraço, naquele perfeito corpo, deu origem a algo que dificilmente algum dos dois imaginava sentir naquele momento: um beijo. 

* Sotão da Avó

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Em Setembro, passava os dias na casa da minha avó até as aulas começarem.

Nesse ano a minha avó tinha visitas lá em casa, os primos Carvalho, que eram emigrantes em França e que este ano vieram passar uma semana com ela.

Para ser sincero nunca gostei muito deles, apesar de serem simpáticos, mas irritava-me estar sempre a ouvi-los falar francês.

Para me manter afastado deles refugiava-me no sótão, que tinha uma pequena varanda com vista para um campo de milho que a minha avó tinha com muito orgulho. Gostava de lá passar as tardes a ler os livros antigos que a minha avó lá guardava. Nesse dia descobri que a minha avó tinha um baú com uma invejável colecção de Revistas Maria...

Comecei então a desfolhar a parte mais conhecida da revista. A ler as dúvidas e as interrogações dos leitores. Estava muito entusiasmado e empolgado e estava também a esclarecer muitas dúvidas, que eram normais devido à minha falta de experiência.

Ler aquilo excitava-me e despertava em mim grande curiosidade para estar com uma rapariga. Fazia-me sonhar como seria a minha primeira vez. 

Eu estava com a mão dentro das calças de ganga e tão concentrado na leitura, que nem notei que a Vanessa (minha prima e filha do casal Carvalho), tinha subido as escadas de ferro em caracol que faziam a ligação ao sótão, e que me estava a observar à entrada do alçapão. 

Era uma rapariga três anos mais velha do que eu, que mal falava português...

Quando reparei que ela ali estava, rapidamente tentei disfarçar o que estava a fazer... ela subiu e foi ter comigo. Naquele sotaque engraçado pediu-me que eu continuasse, fiquei sem jeito, mas foi ela mesmo que desapertou o cinto das calças, e as baixou até aos meus joelhos.

Por momentos pensei que ia ser a minha primeira vez, mas ela apenas me queria observar, sentou-se no chão, mesmo à minha frente e fixou aqueles bonitos olhos azuis em mim. 

Eu lentamente tocava-me, até porque eu estava de um modo que qualquer movimento mais rápido poderia ser o final da brincadeira. Ela estava a ficar ansiosa.

Ela de modo a me provocar, deixou as alças do seu top descaírem sobre os seus ombros, deixando bem visíveis aqueles belos seios, pois é, ela sabia que com aquela visão mesmo à minha frente eu não iria resistir muito mais tempo. Fixei os olhos naquele corpo perfeito e delicioso, e ela disse-me “Touchez-moi…”. 

Eu não percebi o que ela dizia, mas senti que era uma ordem para lhe tocar… e toquei. Senti, beijei, saboreei aquele peito. A minha língua caminhou lentamente ao redor daquele mamilo, de forma circular deixando duro e eriçado. Eu suguei-o e percebi que ela estava a gostar. Do lado direito e do lado esquerdo, os meus lábios queriam senti-la viva e intensa. Eu começava a descontrolar-me.

Ela percebendo a minha ansiedade e descontrolo voltou a dizer-me qualquer coisa que eu não percebi, no entanto o seu dedo apontando para o seu peito era a ordem para a fazer sentir o meu prazer tocar na sua pele. 

Eu correspondi, e tudo correu no seu peito lentamente, passando naquele duro mamilo, e acabando por pingar na sua barriga…

Nesse dia aprendi, que há linguagens que são universais...

Foto: Pete Leonard (Corbis.com)

Simples Atracção


Não sei o que deu origem àquela atracção, mas eu não conseguia desviar o olhar daquela mulher.

Uma colega, simpática, sempre com um sorriso e com um olhar meigo. Sempre existiu alguma simpatia entre os dois, mas nada que realmente justificasse esta minha atracção.

Ela não era uma mulher vistosa, nem exuberante, mas provavelmente juntava todos os pormenores de que eu gostava no sexo feminino. Baixinha, pele branquinha, olhar profundo que transmite uma magia difícil de explicar.

Eu todos os dias ia para a casa a pensar nela, jantava a pensar nela, deitava-me a pensar nela e adormecia a pensar nela… O desejo era tanto, que por vezes, ela também aparecia nos meus sonhos, e ficava comigo durante toda a noite. Eu desejava aquela mulher para mim, eu queria senti-la ao meu lado.

Eu queria dormir com ela. Eu queria que o seu cheiro não saísse da minha memória. Eu vivia desejoso de tocar-lhe com os meus lábios. Isto estava a tornar-se doentio.

Tudo isto era um segredo só meu, e ninguém imaginava que eu vivia nesta tortura, nem no vicio de desejar aquela mulher para mim. Provavelmente, apenas os meus olhos a desejavam assim, mas isso é uma das deliciosas características da atracção, conseguir transformar defeitos em qualidades.

Ela tinha alguém? Era comprometida? Eu não sei, mas isso seria apenas pormenores, que não conseguiam apagar de mim, o desejo que eu sentia de partilhar tudo com ela. Eu queria respirar o mesmo ar que ela.

* Aventura na Suiça

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Todos os anos a empresa reunia alguns empregados de todo mundo, para uma confraternização anual bem perto do lago Léman, na Suíça, tudo isto porque a sede da empresa era em Geneve

Em representação de Portugal iam sempre dois funcionários que eram sorteados entre todos, e este ano a sorte bateu-me à porta, cinco dias na Suíça, e logo no período em que estava a decorrer o Europeu de futebol, e para além da viagem ofereciam um bilhete duplo para o primeiro jogo. 

Mas nem tudo era bom, a minha companhia ia ser a Vanda, a secretária da contabilidade, uma verdadeira tentação. Já por duas ou três situações tínhamos trocado uns beijos mais atrevidos mas nada mais. Bem, eu estava a viver uma relação estável e estes 5 dias iam ser uma prova ao meu amor pela Helena.

Já na Suíça, ficamos instalados num aldeamento junto do lago. Os representantes de cada país ficavam alojados em pequenas habitações típicas da Suíça. Eram casas pequenas, apenas com uma sala, um quarto, um kitchenete e uma casa de banho, e ao deparar-me com aquela situação, rapidamente disse que ela podia ficar com o quarto que eu ficava no sofá. Ela riu-se, aqueles hipnotizantes olhos verdes brilharam: - tu é que sabes….
Depois de tudo arrumado, fomos até ao buffet de boas vindas, comemos, confraternizamos com algumas comitivas de outros países e ficamos a conhecer o programa de eventos para os dias seguintes. Acabamos por recolher cedo até ao apartamento, para no dia seguinte podermos estar bem preparados para representar Portugal. 

Prancha de Surf


A minha relação entre a Praia e o Mar ficou sempre marcada pela minha prancha de surf. Quando eu era jovem, a praia que os meus pais me levavam era uma praia muito famosa, por ser frequentada por surfistas, e eu ficava vidrado, a vê-los a dominar as ondas. Este fascínio fez com que eu rapidamente pedisse que me comparassem uma prancha, para poder começar a tentar imita-los.

Toda a minha adolescência foi dividida entre a Escola e o Mar, com um grupo de amigos que passava o máximo tempo possível, na areia daquela praia. Era grupo fantástico de camaradagem, onde fiz amigos para vida, e cresci muito como pessoa. Éramos rapazes e raparigas, mas desse grupo destacava-se a Francisca, pois conseguiu ir representar várias vezes Portugal, em provas internacionais.

Com o passar do tempo, e por motivos familiares ou profissionais, foi afastando lentamente todos os elementos do grupo. Hoje em dia, apenas eu ainda vivo perto daquela praia, e a Francisca, que abriu um bar e uma Escola de Surf. Aquela mulher não vive sem aquele areal, nem a forte ondulação daquele oceano.

O Bar da Francisca era um local onde eu gostava de parar com regularidade, pois fazia-me recordar esses bons tempos, e fazia-me relaxar da minha atribulada vida profissional. Ficar a ver aqueles jovens a enfrentar as onde fazia-me relaxar, e fazia-me viajar no tempo. A minha prancha estava guardada religiosamente no meu quarto, e eu tratava dela e estimava-a, como se fosse um assíduo praticamente, apesar de não enfrentar as ondas há muitos anos.

Com a chegada da Primavera, a Francisca acabou por me lançar o desafio de eu voltar a enfrentar o Atlântico, mas eu muito séptico, disse não me sentir à vontade nem preparado para novas aventuras, mas ela acabou mesmo por me convencer, dizendo que me faria companhia, e não haveria problemas, afinal ela era professora de surf.

Foi um delicioso regresso ao passado. Nós os dois, cada um na sua prancha, a recordar todos os momentos que já tinham vivido naquela praia, as aventuras, os namorados, as loucuras. E foi naquele momento, que ambos voltamos a falar de uma tarde, em que os dois, igualmente como hoje, tinham enfrentado o mar apenas os dois, acabando por se envolver dentro de água. Beijos, abraços, atracção. A recordação desta história fez com que os nossos lábios se voltassem a tocar.

Os corpos colaram-se, mergulhados naquela água salgada, e com o Sol como testemunha. A memória transformou-se em desejo, em vontade de os corpos se voltarem em fundir num só. Voltei a conhecer o quente interior da Francisca, que estava melhor do que nunca. A ondulação do Mar ajudava no prazer, e na voracidade com que os dois corpos se entregavam, fazendo prolongar a intensidade da nossa satisfação, de uma forma quase interminável.

A entrega foi total e intensa, conseguindo oferecer um ao outro, exactamente o que desejamos, deixando a água do mar, limpar todas as marcas do nosso pecado. Voltamos para o areal onde ficamos os dois totalmente esticados a tentar recuperar a energia que tínhamos acabado de esgotar. Aquilo que tínhamos acabado de sentir, não tinha sido prazer carnal, mas sim o prazer de reviver uma história antiga. Era o prazer das memórias de juventude.

Mais uma vez, aquela minha prancha de surf presenciou um momento fantástico da minha vida. Ai se ela falasse….

Foto: Tony Arruza (corbis.com)