Foi uma ideia
fantástica ir comemorar o meu aniversário na Riviera Maya. No entanto, escolhemos provavelmente os piores dias
para a viagem, pois quando chegamos, devido à pandemia de uma doença que estava
a ter origem no México, tivemos de passar por uma junta médica. Felizmente,
comigo estava tudo bem, mas a Filipa foi aconselhada a ficar de quarentena numa
zona reservada, para analisar alguns sintomas.
Fiquei sozinho,
e fui até à praia de Tulum, onde as
águas em tons de azul-turquesa do mar das Caraíbas criavam um ambiente
fabuloso. Com o clima de medo que se tinha criado nos turistas e na população,
a praia estava praticamente deserta.
Perto de mim
estava uma jovem loirinha, também sozinha, que acabou por correr na minha
direcção, com medo de uma iguana que se aproximou dela. Achei engraçado a cara
de pânico criada por aquele pequeno animal inofensivo. Mais engraçado, foi quando
a ouvi falar, percebi logo que também era portuguesa, que coincidência.
Sotaque
nortenho, loirinha, baixinha, simpática. Fomos levados pelas palavras. Tínhamos
muitas coisas em comum, mesmos gostos, os mesmos hobbies. Gostávamos das mesmas músicas, dos mesmos livros, dos
mesmos filmes. Tínhamos viajado no mesmo avião…
Tantas
coincidências… mas o mais engraçado foi quando lhe informei, que aquela viagem
era uma prenda de aniversário, e que eu fazia anos exactamente naquele dia… Ela
perdeu o controlo e começou a rir de uma forma descontrolada, que eu não
consegui perceber o motivo? Era também o aniversário dela.
Eu quis dar-lhe
uma prenda, e sem ter nada material, ousei dar-lhe um beijo na boca… que ela
recebeu com agrado, respondendo-me, fazendo a sua língua tocar na minha. Foi um
beijo demorado, que foi apimentado com as nossas mãos a percorrer os nossos
corpos. A curiosidade era mútua e entramos num filme, num cenário paradisíaco.
Tendo a areia
mexicana como colchão, e as iguanas como única testemunha, acabei por entrar
dentro daquela mulher que fazia anos no mesmo dia que eu. Incrivelmente,
descobrimos um encaixe perfeito, uma sintonia única, algo que eu nunca tinha
sentido e difícil de explicar. Ela estava deliciada com a forma que eu percorri
o seu interior. Seria pela data? Ou pela envolvência do mar das Caraíbas? Ou
pela surpresa do momento?
O que é certo, é que aquele momento tornou-se tão saboroso e especial, que tudo foi feito calmamente. Olhos nos olhos, lábios nos lábios. Em cada movimento, eu saboreei os seus recantos mais profundos. A temperatura era perfeita, tudo parecia perfeito, de tal forma que nos esquecemos por completo, do símbolo que tínhamos no dedo da mão esquerda.
O remate
perfeito daquele momento foi o seu sussurrar, com um delicioso sotaque do
norte, com pedidos ordinários de prazer, que me deixaram perfeitamente louco. Ela
chamava-se Maria, exactamente o nome da minha primeira namorada. Apenas mais
uma coincidência.
Acho que foi o momento de prazer mais paradisíaco da minha vida, uma excelente prenda de aniversário. Ela voou nas demoníacas asas de um anjo até às portas do paraíso. Foi único. Saborear uma pessoa que faz anos no mesmo dia que tu, será sempre assim tão especial?
A caminho do hotel, combinamos entre os dois, que o que tínhamos acabado de viver, era um segredo só nosso, e que não podia repetir-se. Tínhamos de respeitar os nossos companheiros. Quando chegamos, o período de quarentena tinha terminado, e encontramos a Filipa e o Carlos a conversar, sentado à beira da piscina, de uma forma muito cúmplice e íntima.
Ficamos
surpreendidos com aquela cumplicidade, mas eles justificaram-se, pelo facto de
terem sido colegas, e de já terem sido namorados… Terá sido apenas mais uma
coincidência???
Neste mundo de
coincidência, foi incrivelmente saboroso conhecer o interior de uma mulher que
faz anos no mesmo dia do que eu. Tu gostavas de sentir a mesma sensação?
Foto: Stanislas Merlin (Corbis.com)