* Obsessão: Catarina

Depois de tudo o que me aconteceu no Chiado, o nome “Catarina” nunca mais me saiu da cabeça. Eu tinha ficado um homem diferente, ansioso, nervoso, carente. Eu tinha de voltar a encontrar aquele rosto tímido, para a minha vida regressar à normalidade. Eu queria voltar a tocar aquele corpo, eu queria conhecer melhor aquela mulher, mas o que é certo, é depois daquele final de tarde, nunca mais nos cruzamos.

O meu descontrolo chegou ao ponto de faltar ao trabalho para percorrer Lisboa em busca da “Catarina”. Achei melhor procurar apoio para esta minha obsessão, e em conversa com um amigo meu psicólogo, ele sugeriu-me sair de Lisboa por uns dias, em buscar de novo ar, e de ideias novas para a minha vida.

Decidi então ir passar a Pascoa ao Algarve, sozinho, pois talvez a mudança de ar me fizesse esquecer aquele final de tarde chuvoso que continua a atormentar-me. Albufeira foi a cidade escolhida, e fiquei num apartamento na avenida principal. 

E foi no sábado, ao início da noite, quando eu estava sentado numa esplanada junto da praia, que vi aproximar-se um grupo de pessoas, e de onde se destacou o brilho de uma estrela. Eu gritei descontroladamente: “-Encontrei-te”…. No meio daquele grupo de amigos todos se riram a olhar para mim, e ouvi algumas piadas do tipo:”-encontraste quem? O Wally?...lolol” “…

Nada disso, no meio daquele grupo de amigos estavam os olhos rasgados, perdidos no habitual olhar tímido da Catarina. Ela ficou corada quando me viu. Os amigos não perceberam o que se estava a passar, mas o brilho cúmplice no olhar dos dois, era por demais evidente. Ela olhou para os amigos e disse: “desculpem… tenho de ficar aqui, porque tenho um assunto para resolver…”

Ficamos horas ali sentados a conversar naquela esplanada. Finalmente deixou de existir segredos entre os dois, e esclarecemos e recordamos aquele beco do Chiado. Foi incrível a afinidade que existia entre os dois, e o passo seguinte foi o meu apartamento.

Foi delicioso sentir aquele corpo novamente, mas desta vez com calma, sem perigo e de uma forma relaxada. Aquele corpo era todo meu. Toquei-o por completo, saboreei com a minha língua. Um sabor meigo e penetrante. A minha língua soube estimular o sítio certo, e ela delirou. O movimento rápido da minha língua foi algo que a deixou louca. Eu não parava, e ela não queria que eu parasse, sempre debaixo para cima…

Foi uma noite sem fim, pois quando entrei dentro do seu corpo, já não quis sair. Sentia-me extremamente guloso por aquela mulher. Tão guloso que tudo foi feito calmamente, de forma a saborear na perfeição aquele corpo. Ela também queria ser saboreada e abusada. Todos os segundos foram perfeitos. Naquela noite, o prazer não foi um simples momento, mas sim um somatório de todos os toques, todos os movimentos, todos os sabores. Por cima, por baixo, de lado, por detrás… tudo aconteceu. Nada ficou por experimentar ente os dois.

Os olhos da Catarina choravam de prazer, e ela já totalmente entregue à loucura suplicou-me: “quero voltar a sentir-te selvagem… força, dá-me tudo, quero o teu melhor com uma intensidade brutal… e sei bem que és capaz…quero-te dentro de mim… preenche-me toda”. E fui mesmo, devorei-a com todo o desejo que tinha acumulado o meu corpo, obrigando o seu corpo a derreter-se numa tremura intensa, ao sentir a violência dos movimentos articulados de entrada e saída de dentro de si. 

Ficamos rendidos ao prazer, e a prova da minha terrível obsessão por aquela mulher, é que os corpos adormeceram, sem eu sair de dentro do seu corpo. Assim, dormimos durante varias horas, perfeitamente encaixados um no outro. 

Foi perfeita a sensação de dormir assim dentro do corpo de uma mulher. A minha obsessão crescia minuto após minuto, mesmo a dormir, e chamava-se “Catarina”… Não será difícil imaginar o que aconteceu quando acordamos, pois não?... e isto repetiu-se incrivelmente nos três dias seguintes, comigo constantemente enterrado dentro dela, noite e dia, onde os nossos corpos apenas se alimentaram de sexo, muito sexo…

Foto: Edvard March (Corbis.com)