* Carrinha Branca


Eu desde muito jovem acompanhava a minha mãe, todos os sábados, a fazer as compras naquela feira, situado num largo perto de minha casa. 

A zona da entrada da feira era sempre ocupada com as carrinhas brancas, dos vendedores de etnia cigana, que ocupavam aquele espaço para efectuar os seus negócios. Muitas vezes, eu ficava a brincar junto daquelas crianças, enquanto a minha mãe fazia o percurso das compras.

Eu adorava brincar com eles, devido à liberdade que eles tinham, e conseguia fazer brincadeiras mais perigosas, com pedras, canas ou paus, coisa que a minha mãe nunca me deixaria fazer. Entretanto, os anos foram passando, fomos crescendo, e todos aqueles jovens foram deixando de aparecer naquela feira, à excepção de uma jovem que os pais vendiam calças de ganga. 

A alegria dos bonitos olhos cor-de-mel, daquela jovem, perdia-se de semana para semana. Estava triste, cabisbaixa, infeliz. Eu tentei diversas vezes perguntar a razão daquela infelicidade estampada no rosto, mas ela limitava-se a baixar a cara e não dizer uma única palavra.

Decidi não insistir mais, mas certo sábado, quando passei junto da banca onde ela estava, ela puxou-me pelo braço, e levou-me para dentro da sua carrinha branca. Ela queria desabafar, estava prestes a explodir e contou-me: “O meu pai já escolheu o homem que será o meu marido, e eu detesto-o. É um homem horrível, que apesar de ser de uma família rica, vive num mundo de negócios escuros. Eu adoro a minha etnia, mas queria ser eu a escolher o meu marido, queria ter uma vida normal. Queria ser advogada e ser uma mulher de sucesso, mas não me deixam”.

Senti cá dentro o desabafo daquela mulher, ela tinha orgulho de ser quem era, mas queria ir mais longe, e queria apenas ser uma mulher como tantas outras. Começou a ser normal, todos os sábados, ela me puxar para dentro daquela carrinha, e desabafar, pois eu tinha-me tornado no seu porto de abrigo. 

Ficávamos ali fechados nas traseiras daquela carrinha, enquanto na rua corria a azáfama habitual da feira, com os pais dela, mesmo ali bem perto a fazer o seu habitual negócio.

Naquele sábado, como já se tinha tornado rotina, quando passei junto do seu posto de venda, ela foi até junto de mim, e quis que fossemos novamente para dentro da carrinha, e lá dentro ela disse-me: “a maioria dos ciganos, ainda exige a virgindade da noiva. A noiva deve comprovar a virgindade através da mancha de sangue do lençol. Caso a noiva não seja virgem, ela pode ser devolvida para os pais e esses terão que pagar uma indemnização para os pais do noivo. Esta é a minha única salvação para não ficar com aquele homem, e quero que tu sejas o meu salvador. Para além disso, tenho curiosidade de experimentar, e não quero dar aquele homem o prazer de ser o primeiro.

Fiquei sem palavras e sem reacção, e ela com um comportamento extremamente activo, começou a tirar a minha roupa, e a ficar totalmente nua. Fixou os seus olhos cor de mel nos meus e disse-me: “Vem, vem ser o primeiro homem a entrar dentro do meu corpo”. 

Sem ter a mínima consciência do perigo que estava a correr, obedeci ao seu pedido, e de forma terna, calma, carinhosa e delicada, entrei dentro do seu corpo. Os olhos dela brilharam, e a sua respiração ficou de tal modo ofegante, que senti que o seu corpo pedia algo mais intenso, mais forte, mais vigoroso.

O seu corpo contorcia-se de prazer, e a suspensão da carrinha não conseguia disfarçar o impulso dos nossos corpos. O som do badalar das suas pulseiras de ouro entoava nos meus ouvidos, e quase que funcionou como uma ordem, para pela primeira vez aquela jovem mulher, sentir o quente prazer de um homem escorrer na sua pele, ficando reservado até o seu umbigo.

Aquela foi a última vez que a vi. Aquela carrinha branca, e aquela banca de calças de ganga, nunca mais estiveram presentes naquela feira. O que lhe terá acontecido? É sem dúvida uma pergunta que até hoje nunca consegui esclarecer.

Foto: Falko Updarp (Corbis.com)

Sem comentários:

Enviar um comentário