* Uivo da Loba


Por vezes o olhar transmite sensações difíceis de explicar. Quem nunca sentiu uma sensação especial numa simples troca de olhares?

Foi em Lisboa, na Rua Augusta, e seguíamos em sentidos opostos. Mesmo longe, ela destacou-se no meio de toda a gente que caminhava naquela calçada portuguesa. O meu olhou destacou-a inexplicavelmente. Esta sensação foi mútua, pois quando ficamos mais perto, a velocidade do passo reduziu-se, e ela interpelou-me: “oi, você pode me dizer qual a melhor direcção para o Clube de Fado, em Alfama?

A resposta não foi rápida nem directa, talvez para os meus olhos aproveitarem todos os segundos possíveis, com a imagem daquela bonita mulher brasileira, que tinha abraçado o desafio solitário de conhecer a capital portuguesa: “só estou cá quatro dias, mas estou a adorar, já visitei a Torre de Belém, Mosteiro dosJerónimos, Castelo de São Jorge. Amanhã é o meu último dia e quero visitar alguns museusEstou hospedada num hotel novo, na Torre Vasco da Gama” Eu abri os olhos e perguntei: “E Sintra?

Ela sorriu e responde: “adorava conhecer, mas tenho de ir de trem, e assim é mais difícil visitar…” acabamos por nos despedir, comigo a desejar-lhe uma boa estadia em Lisboa… mas criei um problema: eu não deixava de pensar ne, um segundo… tive uma ideia, e na manhã seguinte fui até ao hotel, e esperei na recepção, na esperança de voltar a ver aquela mulher. Eu queria convida-la a visitar Sintra. Ela desceu do seu quarto, e com um grande brilho no olhar, ficou surpreendida exclamando: “O que você está fazendo aqui?” e eu respondi: “Sintra… vou levar-te a conhecer Sintra…

Ela aceitou inadvertidamente o meu convite, ficando radiante com a oportunidade de conhecer a Capital do Romantismo. Visitamos o Palácio da Pena e da Vila, Monserrate e a Regaleira. E foi nesta atmosfera bucólica, que ela me confessou todo o seu romantismo, originando um beijo, talvez inadvertido.

E cansados de um dia mergulhado na história desta vila apaixonante, ficamos sentados na escadaria do Palácio Nacional de Sintra, num momento de ternura e de carinho, a ver a Lua a surgir no topo da serra. Eu estava sentado atrás dela, abraçado ao seu corpo, com mil ideias e mil desejos. Sentia-me rendido ao doce cheiro do seu perfume, que sentia no seu pescoço. O ambiente mágico do “Monte da Lua” fez aquela mulher de Curitiba confessar o que estava a sentir naquele momento: “me sinto livre… selvagem… me estou sentindo uma loba…

A noite ficou fria, e no ar sentia-se uma neblina típica do microclima de Sintra. Fomos os dois até ao carro, mão na mão, sentindo a força e o calor mútuo. Estávamos tão embebidos no poder da atracção, que esquecemo-nos de jantar. A fome dos nossos corpos era outra. A viagem de regresso a Lisboa foi tensa, pois não conseguíamos transformar em palavras, tudo o que estávamos a imaginar.

Quando parei o carro junto do hotel, ela olhou para mim, e antes de sair, fez-me uma pergunta com mil significados: “você não quer entrar?” … Eu queria entrar naquele hotel, naquele quarto, no seu corpo, na sua vida…

Aquela noite foi mágica, pois juntamos a novidade, a curiosidade e o desejo. Toquei-a, acariciei-a, saboreia-a. Era simplesmente divinal o sabor do seu corpo. De uma forma meiga e lenta, entrei dentro dela. Quase funcionou como tortura, o carinho constante que lhe ofereci. 

Foi uma noite longa, onde prolongamos o prazer de uma forma indescritível. Tudo foi feito com muita calma e muita qualidade. Ela estava a poucas horas de sobrevoar o Oceano Atlântico, e por isso todos os segundos tinham de ser bem aproveitados… e foram…

Ela foi única, inesquecível, perfeita. Ainda hoje sinto no meu corpo o doce pecado daquela noite… e nunca me esquecerei da forma descontrolada como aquela loba uivou para a lua… Foi um momento magistral… e tudo começou num simples olhar…

Foto: Autor Desconhecido

12 comentários:

  1. Um texto muito apaixonante em passos rápidos de uma lentidão em cada acontecimento.
    A força do olhar ou do destino ?
    Nem sempre sabemos ler e interpretar os acontecimentos à luz do amor que nos acontece em cada dia, em cada rua ou em cada olhar.

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  2. Gostei... mas confesso que me mete confusão como uma mulher aceita boleia de um desconhecido para ir visitar uma terra qualquer, embora Sintra não o seja!
    Fora isso, gostei da tua forma de escrever os momentos vividos!

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  3. Uma história que mostra que quando se quer e se vai atrás, "tudo" pode acontecer... :)

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  4. Olhares são fortes....

    Adoro...

    Principalmente assim..como desejos...

    Beijossss

    Espero vcs no meu blog:

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  6. Quanto romance! Sinto falta disso! Você existe?rs

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  7. Encantada como sempre com seus textos. És uma incógnita Moço...rs
    Beijos.

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  8. oi oi Gostei muito do espaço, já adicionei se quiser visite o meu!
    Parabéns pelo blogue!

    S.

    http://lualibra.blogspot.pt/

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  9. quem seria a mulher com sorte para viver um momento assim??

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