* Cinema de Adultos



Foi o habitual jantar de caloiros, onde os alunos mais antigos tentam sempre integrar os novos alunos do curso. Os novos jovens começam assim a integrar o verdadeiro espírito universitário. É sempre curioso abraçar os novos estudantes que chegam das mais diversas zonas de Portugal.

São sempre jantares animados, onde os jarros de sangria rapidamente ficavam vazios. Todas as conversas eram permitidas. Um grupo de colegas, todos rapazes, contava ter visitado no ano anterior o cinebolso.

Fiquei curioso! Fui investigar, e descobri tratar-se de um cinema para adultos, com sessões contínuas de filmes explícitos. Aquela conversa também despertou a curiosidade da Júlia, uma jovem caloira recém-chegada a Lisboa, oriunda de Santarém. Ela confessou-me essa curiosidade, e eu alertei-lhe, que aquela sala não tinha ambiente para mulheres.

Era frequentada por homens, acima de tudo mais velhos, e com preferências pouco claras, isto é, naquela sala poderia acontecer o inesperado. Este meu alerta ainda lhe despertou mais a curiosidade. Aceitei acompanha-la aquele cinema. Ela seguiu com uns óculos escuros grandes, de forma a tentar disfarçar a sua identidade.

Entramos na sala, e sentimos que os lugares eram ocupados de forma dispersa de modo a garantir alguma privacidade. Era um ambiente de pouca luz, tenso e pesado. No grande ecrã decorria uma cena banal deste tipo de filmes. Eu e a Júlia estávamos mais atentos a todas as movimentações que aconteciam ao fundo da sala. 

Percebíamos que alguns homens se levantavam e se encontravam ao fundo. Era ao fundo da sala que se matava o desejo. Percebemos que alguns estavam muito atentos a nós, pois a Júlia era a única mulher na sala.

Achamos melhor sair, e quando ela se levantou, vários homens também se levantaram na esperança de acontecer algo. Saímos rapidamente. Saímos em passo rápido daquela rua e acabamos por lanchar numa zona de restauração no Saldanha. Precisávamos conversar sobre o que tinha acabado de acontecer. O perigo excitou-nos. A Júlia confessou-me ter sentido uma estranha sensação. Ela queria volta, mas de uma forma mais discreta.

Combinamos regressar no dia seguinte, mas a Júlia foi vestida com roupa minha. Ninguém poderia perceber que ela era uma mulher. Ficamos sentados lado a lado, e agora ela deixou de ser o foco das atenções. À nossa frente estavam sentados dois homens, da nossa idade. Na tela do cinema podíamos ver uma cena entre três homens e uma mulher. A imagem estimulou-nos. Nos lugares da frente, os dois começaram a brincar. O que estava sentado no lugar do lado direito dobrou-se sobre a esquerda, e encaixou a sua boca no seu companheiro.

A Júlia sorriu com aquela imagem e imitou-os. Eu não estava à espera. Percebi que lhe deu um gozo tremendo aquela ousadia. Os rapazes do banco da frente olharam para trás e perceberam que estavam a ser imitados. Surgiu o convite: “querem ir ao nosso apartamento?” Foi inesperado, mas a Júlia em silêncio acenou a cabeça afirmativamente.

Eles moravam perto, na zona da Estefânia, e na viagem para o seu apartamento ficaram surpreendidos quando perceberam que nós não éramos dois homens. A Júlia não quis estragar aquele jogo, alimentou a sua adrenalina e assumiu um espírito livre. No apartamento, ela tentou comportar-se como um homem, mas a sua feminilidade falou mais alto, muito alto.

Aconteceu o impossível, o impensável, e ela entregou-se por completo nos nossos braços. Aquele casal masculino acabou por comprovar que também gostava de mulheres… pelo menos gostaram muito da Júlia. Ela transformou-se e demonstrou-se uma mulher totalmente diferente, ousada e devassa, mergulhando na sua secreta fantasia… sentiu todos, um de cada vez… tal com a cena do filme que vimos no cinema…


Foto: Mike Kamp (Corbis.com)

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