* Poder da Saudade



Eu e a Daniela vivíamos uma relação apaixonada, e coabitávamos num apartamento alugado, numa zona urbana e densamente povoada, muito próxima de Sintra.

No entanto, a nossa vida profissional andava bastante atribulada e instável, e as empresas onde cada um trabalhava, acabou por apostar em nós, dando-nos alguma estabilidade. Eu fui colocado a trabalhar numa delegação da empresa em Sevilha, e a Daniela foi colocada a coordenar uma equipa de trabalho, em Guimarães. Este afastamento obrigou-nos a terminar a nossa relação, pois seria impossível alimentar o nosso amor desta forma, e nenhum dos dois acreditava em relacionamentos à distância.

O tempo passou, e os dois acabamos por refazer as nossas vidas sentimentais, em Sevilha e em Guimarães, no entanto, penso que muita coisa ficou por resolver. Eu, muitas vezes pensava em telefonar à Daniela, mas faltava-me sempre a coragem, tinha muita coisa para lhe dizer e perguntar, mas nunca fui capaz.

Até que certo dia, o telefone tocou, e ouvi do outro lado a doce e meiga voz daquele mulher que eu tanto amei. Saudades? Muitas mesmo…. E neste telefonema surgiu um assunto, relacionado com o antigo contrato de arrendamento, que obrigava ao nosso reencontro, na casa onde tínhamos vivido.

O regresso a Sintra, foi o reactivar de uma chama que nunca tinha sido definitivamente apagada. Mas o pior, foi o regresso a locais que marcaram positivamente o nosso passado. Estivemos os dois, no centro histórico daquela vila património mundial, a comprar queijadas e travesseiro, e fomos à Lagoa Azul, um local mágico na Serra de Sintra, onde tinha sido o primeiro beijo da nossa relação.

E foi exactamente nesse local, onde os nossos lábios voltaram a tocar-se. Foi impossível resistir. O poder da saudade alimentou o desejo dos corpos. Nós queríamos relembrar os doces momentos de prazer, que continuavam bem vivos, nos nossos álbuns de memórias.

Parecíamos dois adolescentes inconscientes, incapazes de controlar o desejo. Foi impossível controlar o impulso que estava bem vivo em nós, e foi ali mesmo, no ambiente de outono da serra, com o chão cheio de folhas, que eu voltei a entrar dentro daquela mulher, e sentir um prazer que só ela me conseguia oferecer.

Ela era mágica, perfeita, vibrante e incrivelmente excitante. Ela sabia e conseguia provocar-me como mais ninguém. Meiga e incrivelmente sedutora, a Daniela deixava-me louco com o brilho dos seus olhos castanhos.

É impossível resistir a uma mulher assim, e naquele momento, e da forma intensa como eu penetrava o seu corpo, os dois já estávamos esquecidos, que aquilo que estávamos a fazer, era o consumar de uma traição, pois neste momento da nossa vida, já estávamos dedicados a outras pessoas.

Penso que a única coisa que tínhamos consciente naquele instante, era que aquele momento de prazer seria fugaz, e que assim que terminasse, provavelmente nunca mais voltaria a acontecer nas nossas vidas, e desta forma, contive-me o mais que consegui, para prolongar algo que estava a ter um sabor totalmente inexplicável.

Foi verdadeiramente inexplicável, e expressamos na voz, de uma forma indescritível o prazer que sentimos nos nossos corpos. Ela sempre adorou a sensação do meu orgasmo dentro do seu corpo, mas desta vez o descontrolo foi total. Estávamos os dois rendidos…

E agora? Depois desta total inconsciência, alimentamos os dois, um terrível problema e uma angustiante dúvida: Serei feliz com a pessoa com quem estou ou seria verdadeiramente feliz contigo? E afinal porque é que nos separamos? Não poderíamos ter resolvido o problema de outra forma? Naquela tarde, alimentamos a maior dúvida das nossas vidas…

Foto: Lou Cypher (Corbis.com)

5 comentários:

  1. Muito bonita mesmo.....acontece no dia a dia,como sempre vejo me dentro desta historia ....obrigado ,fizeste reviver uma historia minha de ha alguns anos.....beijos all the best!!!Angel

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  2. Nooooossa sua página é um mimo, belas postagens com instigantes ilustrações, realmente gostei muito de andar por aqui, vc tem belos textos, pra vc vai um fraterno abraço do tio Castanha...

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  3. Essas histórias fazem revirar o baú de nossas eternas saudades......

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